quinta-feira, 8 de outubro de 2009

"Mentiras sinceras me interessam..."




A Aposta dos Santos

Naquele instante, alguns dos mais prestigiados e requisitados santos com endereço naquela belíssima baía, pararam os seus afazeres para acompanhar atentamente aquela conversa. Afinal, o casal sentado à mesa, pretendendo contar com as bênçãos protetoras de todos eles, escolheu aquele sugestivo altar na cabeceira da Baía de Todos os Santos para esgotar as últimas palavras como simples amigos e iniciar o que prometia ser um lindo romance.

Os santos, eufóricos com a oportunidade de futricar e influir, fizeram entre si (pasmem!) uma bolsa de apostas para premiar quem acertasse o que ele faria diante daquela pontiaguda pergunta que ela acabara de disparar-lhe: Diria a verdade, pondo tudo a perder? Mentiria em nome daquela arrebatadora paixão, ou diria uma meia-verdade, ou quase uma mentira, como normalmente se faz em situações semelhantes?

A maioria deles apostou na última hipótese. Perderam feio. Ele preferiu a verdade. A verdade que afasta, que segrega, que impede. A verdade que moraliza, mas que distancia e isola. A verdade malsoante, ímpia, falsamente importante.

Até ela se surpreendeu. Não era aquela verdade que ela gostaria de ouvir. Aquela verdade, ali, naquele momento, não cumpriria nem minimamente qualquer das suas nobres funções. Quais sejam: Fazer justiça, promover o bem-estar e tornar-se exemplo. Fazer justiça? Que justiça foi feita separando-os? Bem-estar de quem? De quem irá sofrer por tê-la usado? Tornar-se exemplo... Quem quer exemplos que nos afastam do que mais desejamos? Não, definitivamente, ele errou!

Quem sabe ele não devesse ter agido como agem sempre naqueles fins de tarde inícios de noite, o sol e a lua? Diante do crepúsculo que se debruça sobre aquela imensa baía, quando, capciosamente, os santos lhes perguntam se já é hora de sair, a lua, louca pra se exibir, diz que sim, que já está pronta. Já o sol, sempre arrogante e afogueado, diz que não, que ainda é dia. Ambos dão mais de um sentido e várias utilidades à verdade. No entanto, a noite, eterna confidente de verdades e mentiras, não se atrasa nem um segundinho sequer por causa disso.

Augusto Serra



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E eu, que já estive dos dois lados de situações como essa...